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Greg Fox Solo: Clothilde | ZDB

  • Galeria Zé dos Bois 59 Rua da Barroca Lisboa, 1200-049 Portugal (map)

Entradas: 8€ | Bilhetes disponíveis na Flur DiscosTabacaria Martins e ZDB (2ª a Sáb. 22h-02h) | reservas@zedosbois.org

Greg Fox
Isoladamente, o nome de Greg Gox soará pouco familiar. Porém, deixou assinatura em mais de cinquenta discos na última década. Um longo e diversificado corpo de trabalho onde cabem alguns dos melhores astros do nosso tempo: Liturgy, Hieroglyphic Being, Zs, Ben Frost, Colin Stetson ou Oren Ambarchi, entre tantos outros. Em todos e cada um deles, Fox acompanhou-os, no estúdio ou em palco, enquanto ainda mantém projectos mais obscuros como EX EYE ou Guardian Alien; paralelamente, dá aulas de bateria e envolve-se em múltiplas e frequentes performances audiovisuais. Em 2011, a publicação Village Voice considera-o “o melhor baterista de Nova Iorque” e um par de anos depois a lenda viva do free jazz Milford Graves, convida-o para experimentar e gravar em sua casa, dando origem a um brilhante álbum, “Mitral Transmission”. Feitos que falam por si.

Entre a entrega física, quase atlética, de quem associa técnica a rapidez, junte-se uma demanda extra-física, espiritual. Estas parecem ser as direcções que fazem mover Greg Fox que pelo caminho tem vindo a desenvolver uma sensibilidade única. O segundo álbum a solo chega agora pela cada vez mais essencial RVNG Intl. “The Gradual Progression” é um fenomenal excerto de um estudo ongoing em redor da natureza electroacústica do som. Se já na colaboração com o supracitado Graves o papel do software musical foi crucial, obra de Fox volta a gravitar pelas possibilidades da tecnologia.

Recorrendo a um sistema inovador conhecido como Sensory Percussion, o músico combina diferentes camadas de profundidade e novas dinâmicas, alcançando um patamar ímpar de expressividade no instrumento. Mas se à priori esta disposição de sensores, microfones e interfaces possa assumir-se como um processo pouco orgânico, a verdade é que se revela exactamente o oposto. “The Gradual Progression” foi interpretado e gravado num só take e preserva uma identidade intuitiva, de ascensão iminente. Soa a arquitectura sonora pura, após depuração de múltiplos géneros como o jazz, a electrónica ou o metal. É um objecto que habita no seu tempo, ligando-se a ele e dele extraindo uma genética de liberdade criativa sem limites. O mindset que encontramos neste álbum é simplesmente encantador; trata-se de uma colecção dualista de elementos - de fogo e água, poliritmia e silêncio, tensão e libertação. Claro que nesta concepção universal cabem ensinamentos alusivos à mestria de Alice Coltrane, Don Cherry ou Pharoah Sanders, do mesmo modo que encontra musculatura nos Napalm Death ou Lightning Bolt.

Destaque-se igualmente a visão holística de Fox, conectando pontos e construindo uma narrativa cujo movimento é desde logo descrito pelo título do disco. A travessia pelas sete peças aí dispostas é um genuíno apelo sensorial a quem as escuta. Facilmente suscita questões sobre o que soa em cada instante e mais facilmente provoca um magnetismo difícil de explicar. Das explorações melódicas e harmónicas há sempre um escape para o híbrido, para o desconhecido. “The Gradual Progression” é um rasgo translúcido num céu já de si estrelado.

Três anos volvidos da sua apresentação com Guardian Alien, Greg Fox regressa ao Aquário, como nunca antes o vimos. Uma energia constante, influente e inimaginável que por uma noite partilhará o exótico e o transcendente, em plenas chamas. NA


Clothilde
Foi com a edição de Labareda Vol. 1 que muitos ouvidos se conectaram, pela primeira vez, com a matéria sensorial de Clothilde. A compilação reunida pela DJ e agitadora cultural Sonja é uma referência na recente história discográfica por cá, combinando oito faixas integralmente assinadas no feminino. Um feito urgente e necessário, como há muito se sentia.

A sua contribuição ’Birdwatching’ escavou fundo na busca textural, resultando numa experiência imersiva - e que inevitavelmente abria espaço para a terra incógnita. É na natureza bruta das máquinas que Clothilde se encontra. É nas formas abstractas e nas meta-melodias que a sua multidimensionalidade se faz sentir. Éliane Radigue, Daphne Oram ou Delia Derbyshire representam pontos cardeais com os quais facilmente nos guiarão pelo fluxo sonoro desta criadora ainda a merecer franco (re)conhecimento. NA